martes, junio 21, 2016

"Aquí me quedo". Buenos aires. 
CHIACHIO & GIANNONE: A VIDA BORDADA A QUATRO MÃOS

Autorretratos, viagens, sonhos, influências, memórias, amores. A vida. Conheçam o Monobordado de Chiachio & Giannone. Até o dia 9 de junho, na Galeria Pasaje.

Por Gisele Teixeira. 

É Daniel Giannone (à esquerda, na foto ao lado), quem me mostra: aqui o Leo não tinha nem barba!  Então me dou conta que o bordadofunciona para eles como um diário, um registro da vida a dois, feito a quatro mãos.
Quase todos os trabalhos trazem autorretratos de ambos em diferentes momentos e situações: disfarçados de índios guaranis, de samurais japoneses, de bombeiros. Não há espaço em branco nas tela. Tudo é excesso, contado com pontos clássicos ou inventados.
“Bordar-se” todo o tempo me deixou fascinada.
Uma das peças da nova fase é esta que aparece na foto, Selva Blanca, um bordado gigante (4,60m x 2,85m) que levou mais de dois anos para ficar pronto. Faz parte da exposição Monobordado, que vocês podem visitar até o dia 09 de junho, na Galeria Pasaje, em Bartolome Mitre, 1559.

O processo

Eles atuam de forma conjunta desde 2003, ou seja, bordam as mesmas peças. A primeira que fizeram juntos se chamou Hechizo (Feitiço, em português), em 2003, um colchão de lã que resgataram de um motel. Não pararam mais. Daniel conta que não há muitas controvérsias. “Sempre são decisões tomadas a dois e geralmente estamos trabalhando em mais de uma obra, para não enjoar, vamos nos revezando”.  Quem vê de fora não identifica o ponto de um ou de outro. Agora são Chiachio & Giannone.
Eles são também um dos primeiros casos de união civil entre pessoas do mesmo sexo na Argentina e, ao combinar vida e arte dessa maneira, acabaram por dissolver os limites entre ambas as esferas. Mas o nome Monobordado, no entanto, não vem daí, de ser “um”. “As obsessões é que são sempre as mesmas”, diz Daniel. O amor, a as memórias de viagens, o jeito irreverente e divertido, a nova família argentina.
“O bordado ocupa um lugar na memória, sempre há um relato. No nosso caso, falamos muito dos novos paradigmas da família. Falamos de dois homens que são um casal e constroem uma vida de trabalho e afetiva juntos”.

 A cozinha do bordado

Uma das coisas bacanas desta exposição é que eles decidiram mostrar o backstage do bordado. Como começa a obra, como marcam as cores das linhas, como definem os pontos e até o avesso, o que eles chamam de “parte incontrolável” do trabalho.
Daniel aprendeu a bordar quando criança, num colégio de freiras, na província de Córdoba, e mais tarde ensinou a Leo. Ambos vêm de uma tradição pictórica e decidiram deixar óleo e o acrílico pelos fios, que utilizam quase como pigmentos, criando luzes e sombras e dando a sensação de volume. Vistos de longe, é difícil detectar a técnica usada em seus trabalhos.
“Ao usar técnicas reservadas até então ao gênero feminino e, em alguns casos, ao mundo infantil, resgatamos o artesanal, o ofício, e celebramos o fato de os homens também poderem ingressar a este mundo com absoluta liberdade”.